Gostaria de saber a diferença de sentido das frases: São hipóteses que conduzem à investigação
adiante. e São hipóteses que conduzem a investigação adiante.
Na primeira frase apresentada (São hipóteses que conduzem à investigação adiante) há utilização da
crase da preposição a (que introduz o complemento indirecto locativo
do verbo conduzir) com o artigo definido a, que caracteriza o
substantivo investigação como realidade bem determinada. Esta frase pode
ser parafraseável por ‘são hipóteses que levam à investigação a seguir
explicitada e não a qualquer outra’.
A segunda frase (São
hipóteses que conduzem a investigação adiante) apresenta uma
ambiguidade estrutural. Se se considerar que há utilização apenas da preposição
a (que introduz o complemento indirecto locativo do verbo conduzir)
sem o artigo definido, a estrutura é muito semelhante à da primeira frase, sendo
que a ausência do artigo definido indetermina o substantivo investigação.
Esta interpretação pode ser parafraseável por ‘são hipóteses que levam a uma
investigação entre outras possíveis’. Se, por outro lado, se considerar que há
utilização apenas do artigo definido a, já não se tratará de um
complemento indirecto locativo, mas de um complemento directo do verbo
conduzir no sentido de ‘dirigir ou governar’. Esta interpretação pode ser
parafraseável por ‘são hipóteses que dirigem a investigação para diante’.
As três estruturas acima explicitadas podem ser mais claramente distinguidas,
pela mesma ordem, com frases em que os complementos do verbo conduzir
correspondam a um masculino plural, para que não haja ambiguidade em nenhuma
frase. Por exemplo, São guias que conduzem aos cumes da
montanha pode ser exemplo de utilização da crase da preposição a com
o artigo definido os. A frase São guias que conduzem a
cumes da montanha pode ser exemplo da utilização apenas da preposição a
sem artigo definido. Na frase São guias que conduzem os
montanhistas há apenas a utilização do artigo definido os, pois esta
acepção do verbo conduzir permite a utilização de um complemento directo,
sem qualquer preposição.
No vosso conversor para a nova ortografia, e em muitas respostas a dúvidas, utilizam a expressão "português europeu", por oposição a português do Brasil ou português brasileiro. Tenho visto noutros sítios a expressão português luso-africano. Não será mais correcta? Como qualquer língua viva, o português não é alheio à variação linguística e
contém diferentes variantes e variedades, nomeadamente a nível geográfico,
social e temporal. O português falado em Portugal continental e nos arquipélagos
da Madeira e dos Açores é designado por variedade europeia ou
português europeu (ou ainda português de Portugal) e abrange
inúmeros dialectos (divididos ou agrupados segundo características comuns). Esta
designação de português europeu é frequentemente contraposta à de português
do Brasil (ou português brasileiro ou americano), por serem as
variedades do português mais estudadas e alvo de descrição linguística. Alguns
dialectos do português de Angola e do português de Moçambique
dispõem já de descrições e estudos, mas ainda sem muita divulgação fora do
âmbito académico.
A designação de português luso-africano é, do ponto de vista linguístico,
incorrecta, uma vez que as características do português de Portugal, como
sistema linguístico, são diferentes das características do português falado em
cada um dos países africanos de língua oficial portuguesa (nomeadamente do
português de Angola, do português de Cabo Verde, do português da Guiné-Bissau, do
português de Moçambique ou do português de São Tomé e Príncipe) ou de outros
países (como Timor-Leste) ou territórios onde se fale o português. O único ponto
em que poderá haver uma designação que indique uma aproximação luso-africana é
exclusivamente em termos de norma ortográfica. Ainda assim, as práticas
ortográficas divergem amiúde, principalmente no uso do apóstrofo em contextos
não previstos no texto do Acordo Ortográfico de 1990 e das letras k, w
e y em nomes comuns e não exclusivamente em nomes próprios ou derivados
de nomes próprios estrangeiros. No que diz respeito ao léxico, à fonética ou à
sintaxe, trata-se de variedades e normas com traços característicos que as
distinguem.
Como as ferramentas linguísticas da gama FLiP não se limitam ao campo estrito da
ortografia, mas ao processamento do
português como língua natural, a Priberam não adopta o adjectivo
luso-africano para qualificar português, variedade, norma ou palavra
afim. Esta foi também, aparentemente, a opção da redacção do Acordo Ortográfico
de 1990, onde é usada, na "Nota Explicativa", ponto 5.1, a expressão "português
europeu" ("Tendo em conta as diferenças de pronúncia entre o português
europeu e o do Brasil, era natural que surgissem divergências de acentuação
gráfica entre as duas realizações da língua.").