Uma vez, conversando com uma pessoa que eu não conheço na Internet, ele me disse a seguinte frase: "... não faça pré-concepções prematuras". Ele quis dizer para eu não criar uma imagem dele sem conhecê-lo. Achei isso um pleonasmo. Ele disse que não, pois indica que eu fiz uma concepção antecipada e fora do tempo. Mesmo sendo estranho a pronúncia ele estava certo?
Uma
pré-concepção (ou preconceito) é um conceito criado previamente ou sem fazer um exame. No entanto, isto não quer dizer que seja necessariamente prematuro, pois este adjectivo indica que foi feito antes do tempo próprio (se se entender que pode haver um tempo próprio para fazer preconcepções). Apesar de a expressão "preconcepção prematura" poder parecer pleonástica, não o é necessariamente.
Gostaria de saber
como se emprega ...asse ou ...-se.
A questão que nos coloca parece dizer respeito à diferença
entre 1) as formas da primeira e terceira pessoas do singular do
pretérito imperfeito do conjuntivo (ou subjuntivo, no Brasil) de verbos de tema em -a- (ex.: lavar -
Se eu lavasse o casaco com água, ele estragava-se) e em -e-
(ex.: comer - Esperava que ele comesse a sopa toda; Não
queria que ele vendesse a casa) e 2) as formas da
terceira pessoa do singular do presente do indicativo dos mesmos verbos,
seguidas do pronome pessoal átono se (ex.: Ele lava-se
todos os dias; Come-se bem neste
restaurante; Vende-se este carro).
Os exemplos acima indicados (lavasse/lava-se;
comesse/come-se e vendesse/vende-se) são formas parónimas,
isto é, escrevem-se e pronunciam-se de forma semelhante (mas não igual), tendo,
porém, significados diferentes.
Uma estratégia importante para empregar correctamente estas formas diferentes é
analisar o contexto em que estão inseridas. Vejamos então os contextos do
conjuntivo de 1) e do pronome pessoal de 2):
1) O pretérito imperfeito do conjuntivo é um tempo verbal usado
para expor um desejo/pedido num tempo passado ou atemporal (ex.: Esperava que
ele comesse a sopa toda; Não queria que ele vendesse
a casa) ou uma possibilidade/hipótese no passado ou num momento atemporal (ex.: Se eu gostasse de viajar, já a tinha visitado;
Pediu-lhe para não conduzir, caso bebesse). Trata-se sempre,
nestes casos, de uma palavra só, pois corresponde apenas a uma forma verbal.
Do ponto de vista da pronúncia, estas formas verbais têm sempre o acento tónico
da palavra na penúltima sílaba (ex.: bebesse, comesse,
gostasse, vendesse).
2) As formas da terceira pessoa do singular do presente do indicativo
seguidas do pronome pessoal átono se podem corresponder a 3 tipos de
estruturas diferentes. Trata-se sempre, em qualquer destes três casos, de duas
palavras, um verbo no presente do indicativo e um pronome pessoal.
Do ponto de vista da pronúncia, e também nestes três casos, estas formas verbais
têm sempre o acento tónico da palavra na penúltima sílaba (ex.: bebe,
come, gosta, vende), mas como há um pronome pessoal
átono a seguir, é como se a construção verbo+pronome fosse uma palavra só,
acentuada sempre na antepenúltima sílaba (ex.: bebe-se, come-se,
gosta-se, vende-se).
As três estruturas pronominais diferentes são as seguintes:
2.1) Forma da terceira pessoa do indicativo seguida de um pronome
pessoal átono reflexo se. Neste caso, o sujeito faz uma acção sobre
si próprio (ex.: Ele lava-se todos os dias.).
Para nunca confundir esta construção com formas do pretérito imperfeito do
conjuntivo, poderá, no mesmo contexto e com o mesmo sentido, substituir o
sujeito, a forma verbal e o pronome se por outra pessoa gramatical (ex.
Ele lava-se --> Tu lavas-te, logo
trata-se de verbo+pronome pessoal reflexo).
2.2) Forma da terceira pessoa do indicativo seguida de um pronome
pessoal átono
que desempenha a função de sujeito indefinido ou indeterminado, com um valor
próximo de a gente ou alguém (ex.: Come-se bem neste restaurante).
Para nunca confundir esta construção com formas do pretérito imperfeito do
conjuntivo, poderá, no mesmo contexto e com o mesmo sentido, substituir o
pronome se por outro sujeito como a gente ou alguém
(ex.: Come-se bem neste restaurante --> A gente come
bem neste restaurante, logo trata-se de verbo+pronome pessoal
sujeito indefinido).
2.3) Forma da terceira pessoa do indicativo seguida de um pronome
pessoal átono apassivante se, com um valor próximo de uma frase
passiva (ex.: Vende-se este carro).
Para nunca confundir esta construção com formas do pretérito imperfeito do
conjuntivo, poderá, no mesmo contexto e com o mesmo sentido, substituir o
pronome se por uma construção passiva (ex.: Vende-se este
carro --> Este carro é vendido, logo trata-se de verbo+pronome
pessoal apassivante).