Podem informar-me se o verbo queixar-se pode ser utilizado sem o pronome reflexivo e em que situação isso ocorre.
O verbo
queixar-se é um verbo pronominal; no entanto, o pronome se não é um
pronome reflexo, mas o que é designado por “se inerente”. Esta construção
é diferente da construção reflexa lavar-se, em que o sujeito é ao mesmo
tempo agente e paciente da sua acção (eu lavo-me = eu sou lavado por mim),
ou da construção reflexa recíproca beijar-se, em que um sujeito complexo
ou colectivo é ao mesmo tempo agente e paciente da mesma acção (o casal
beija-se = cada um dos elementos do casal beija e é beijado); em ambas estas
construções, o pronome reflexo desempenha uma função de complemento directo. Na
construção queixar-se, porém, não há uma acção do sujeito sobre si
próprio (eu queixo-me = *eu sou queixado por mim; o asterisco indica
agramaticalidade), e o pronome pessoal não tem valor reflexo, nem reflexo
recíproco, nem impessoal, nem apassivante, mas parece fazer parte do verbo e das
suas propriedades lexicais. No caso de queixar-se, nenhuma das acepções
do verbo permite outra forma que não a pronominal (ex.: *ele queixou à irmã;
*o doente queixava de dores de cabeça). Há ainda o caso de outros verbos que
admitem quer uma construção não pronominal (ex.: esqueci o livro em casa)
quer uma construção pronominal com um se inerente (ex.: esqueci-me do
livro em casa).
Ao utilizar o vosso dicionário, obtive o seguinte resultado para a palavra amoníaco:
do Lat. ammoniacu < Gr. ammoniakón
s. m.,
gás incolor, de cheiro intenso, sabor acre e com efeitos lacrimogéneos;
gás composto de azoto e hidrogénio, que se encontra na urina e nas matérias em decomposição. A partir de lacrimogéneos obtive:
masc. plu. de lacrimogéneo,
do Lat. lacrima + Gr. gen, r. de gígnomai, gerar.
No entanto a palavra lacrimogéneo não aparece no vosso dicionário, mas sim lacrimogénio (com i em vez de e):
adj.,
que provoca ou produz lágrimas;
que faz chorar.
Assim, gostaria de saber se existem as duas formas ou se uma se encontra errada.
Como muito bem observou, a informação disponibilizada não é coerente. De facto, não se pode dizer que a forma lacrimogénio seja errada, mas, sendo possível, é uma variante de lacrimogéneo, menos usada e praticamente não registada em dicionários e vocabulários de língua portuguesa.
O DPLP deveria ter registado a entrada lacrimogéneo (e lacrimogénio, a ser registado, deveria remeter para lacrimogéneo, sendo esta última a forma preferencial).